segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Discípulo do Amor



 
O tema do amor cristão me parece um desafio em dois andares: o da ortodoxia, em cima, e o da “ortopraxia”, no térreo.
No andar de cima encontro o ensinamento de Jesus e de seus apóstolos, inspiradores e desafiadores. Nesse âmbito, ouço Jesus dizer que seremos reconhecidos como seus discípulos se tivermos amor uns pelos outros (Jo 13.35); ouço Paulo orar por nós, para que, pela fé, tenhamos raízes e alicerces no amor (Ef 3:17); ou então João, a dizer que aquele que não ama não sabe nada de Deus (1 Jo 4).
No andar de baixo encontro o desafio da prática desse mandamento de Jesus, acrescido do entendimento apostólico de que fazer discípulos significa também ensinar a amar (Mt 28:19). Nas palavras de René Padilla: “...efetivamente, a experiência do amor de Cristo, que segundo Paulo 'excede todo entendimento', só é possível 'com todos os santos' ... só é possível na igreja, 'a família de Deus', onde os discípulos aprendem a amar...” (Ultimato 328, p. 36).
O discípulo de Cristo precisa conhecer o que seu mestre espera dele. Para isso, observa suas palavras e atitudes; considera o que seus apóstolos ensinaram a respeito e como eles mesmos vivenciaram esse ensino e exemplo. Por outro lado, o “discípulo do amor” precisa manifestar em sua vida comunitária esse sinal, essa marca da nova vida que recebeu do Espírito Santo.
Eis o desafio dialético: precisamos aprender e ensinar a amar — nos dois andares! Não basta abrir a Bíblia e aprender sobre o amor. Esse ensino fica incompleto. É preciso coerência com o térreo; com a “ortopraxia”: a prática correta; uma escada ligando os dois andares.
Surge, assim, a questão inevitável: como se aprende a amar? Minha resposta: pelo andar de cima, obedecendo; ou seja, sem considerar emoções (gostar ou não), amando: abençoando, fazendo o bem, permitindo o bem, ensejando o bem a amigos e a inimigos. Já, pelo andar de baixo, aprende-se a amar sendo amado. Sim, uma dimensão passiva dessa pedagogia divina. E é aqui, me parece, que a experiência do amor de Cristo “excede todo entendimento”. É onde aprendo sobre graça e afeto; sobre a segurança que o amor de Deus traz; sobre a incrível sensação de ser amado, apesar de ser conhecido como realmente sou.
Ai, que conflito! Meu maior sonho é ao mesmo tempo meu maior temor: ser conhecido. Na transparência (que advém da proximidade e que permite a comunhão) posso encontrar descanso e paz. Mas posso encontrar, também, rejeição. O temor é que, quando descobrirem meus defeitos, passem a me odiar.
Mas é aqui que João nos exorta a que pela fé vençamos nossos medos e aprendamos, com sabedoria e oração, a “andar na luz”. E as palavras que ele usa para “luz” são: verdade, confissão, perdão e purificação. (1 Jo 1:1-10).
— Transparência? Confessar tudo? Na minha igreja? Me botam na rua! Talvez nos falte um pouco do andar de baixo.
Procuram-se “mestres do amor”: gente que aprendeu a amar porque foi muito amada — apesar do seu pecado. Incondicionalmente, portanto. Oferecem-se “discípulos do amor”: gente desconfiada, que não crê mais nisso — mas que está disposta a tentar uma última vez.

Fonte: http://www.amorese.com.br/hp/Blog/Entradas/2011/9/16_Discipulos_do_Amor.html

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